Palmira

Palmira (nome fictício), 68 anos, foi vítima de violência doméstica durante 38 anos. Aos 56 anos colocou um ponto final no casamento e afastou-se à procura de uma nova vida. Conta-nos como o ano e três meses que esteve acolhida na Casa de Abrigo Alcipe determinaram a felicidade que hoje vive.

O que a levou à Casa de Abrigo Alcipe?

Com 59 anos pedi ajuda à APAV, porque tinha um marido que sofre de stress de guerra compulsivo e durante 38 anos a minha vida foi um martírio. Tive dias bons mas a maioria não era assim.

Um dia tinha visto na televisão que os homens quando batiam nas mulheres que havia estas Casas e eu aos 30 anos também já me tinha acontecido o mesmo mas nessa altura não havia as Casas da APAV e outras mais. Fui aguentando, porque ele nos primeiros anos ainda mais ou menos mas depois com o tempo voltou ao sítio. Começou-me a agredir outra vez e verbalmente também, controlava-me tudo, não podia falar com vizinhas que ele sempre desconfiado que falasse dele e a vida foi muito complicada.

Um dia, ele saiu à rua, voltou e começou a agredir-me - senti-me desesperada. Uns dias antes tinha visto na lista dos telefones o telefone destas Casas, parece que estava a adivinhar. Na altura em que ele me estava a bater, consegui sair porta fora e disse para mim: se puder não volto mais. Fui à procura de pessoas que me apoiassem, como foi à noite, fui dormir a casa de um familiar e no outro dia houve uma pessoa amiga que me levou à APAV e nesse dia mesmo fui acolhida na Casa de Abrigo.

O que encontrou na Casa de Abrigo da APAV?

Quando entrei, senti-me segura, tanto que durante mais de um mês não saí da Casa, porque vivia com medo. Comecei a sair, mas sempre a olhar para trás, a olhar para os lados. A pouco e pouco fui tomando balanço para ir avançando e sair e então mantive-me na Casa de Abrigo ainda 15 meses

Juntei o meu dinheirinho e passado esse tempo, comecei a arranjar casa, tive aqui 15 meses e depois de arranjar a minha casa fui viver sozinha. É triste estar sozinha mas a palavra feliz quer dizer que não tenho ninguém que me incomode e sinto-me bem no meu cantinho. Vou para onde eu quero, faço o que quero e nesse aspeto era sempre muito controlada. Se não me apetece estar em casa, saio, faço as minhas coisas quando me apetece, vou passar o fim de semana com a família ou com alguém. Pronto vivo assim, vivo feliz.

Qual foi a sensação de deixar de ter esse controlo na sua vida?

Foi um bocado difícil adaptar-me ao sistema. Porque fui para a Casa de Abrigo onde havia muito movimento e a minha cabeça estava ocupada, sentia como um trabalho, como uma maneira de viver e convivia e era bom. Senti-me muito segura, mas quando fui para a minha casa, ao estar sozinha, passado um mês tive uma depressão porque não é fácil e foi muito complicado mas depois consegui ultrapassar tudo.