A primeira mulher
estava casada há mais de 30 anos, quando, aos 61 anos, decidiu
pedir apoio à APAV. A senhora estava já reformada e numa fase em que
era suposto que tirasse o maior partido da sua vida.
Aquando do seu pedido de apoio, esta mulher relatou sofrer de maus tratos físicos e
psicológicos por parte de
um marido com suspeita de padecer de desordem psiquiátrica. Um dia, a meio da noite
e em camisa de dormir, a senhora decidiu que era altura de fugir de casa, depois de o
seu marido a ter voltado a maltratar. A vida desta mulher “começou” nessa noite, quando
decidiu romper com a sua vitimação e foi acolhida numa Casa de Abrigo da APAV.
Foi nesta Casa que percebeu que há sempre forma de colocar um termo a uma
relação violenta e de começar
(quase) de novo, bem como de reconquistar o que há muito perdera: o contacto com os
amigos e a família. Para além disto, decidiu investir em si, fez uma formação nas Novas
Oportunidades e, quando reuniu as condições necessárias, autonomizou-se. Hoje mantém um
grande vínculo com a APAV, dedicando-se ao voluntariado na Casa de Abrigo constituindo
um grande e imprescindível apoio a todas as mulheres e crianças que lá se
encontram.
A segunda mulher
solicitou o apoio da APAV após uma violenta agressão do marido, acabando por
ser acolhida com os seus filhos. Quando iniciou o acompanhamento com os técnicos
encontrava-se emocionalmente vulnerável, podendo quase
dizer-se que personificava a expressão do “desânimo aprendido”. Numa das actividades
desenvolvidas, a senhora escreveu o seguinte poema:
“Numa noite de
Silêncio surgiu-me
Uma esperança que no
Final se tornou num sonho…
Com estas palavras
Consegui algo que
Nunca fiz, do
Qual saiu um poema
Sem nenhuma solução”
Ao longo do acolhimento esta mulher conseguiu desconstruir e contrariar todo este
desânimo e pessimismo, o
que se tornou evidente na forma como transformou o seu poema numa mensagem positiva,
utilizando praticamente todas as palavras usadas no seu poema original:
“Numa noite de silêncio,
Sem nenhuma solução,
Surgiu-me um sonho que no final
Se tornou (n)uma esperança…
(e) com estas palavras do qual saiu
Um poema,
Consegui algo que nunca fiz.”
A terceira história
é a de uma mulher que, vítima de maus tratos por parte do marido e dependente dele
economicamente, foi acolhida na Casa de Abrigo da APAV
numa altura em que tinha três pessoas a seu cargo.
A mãe desta senhora tinha sido vítima de homicídio pelo companheiro, facto que o
marido utilizava para a intimidar, dizendo-lhe que um dia lhe faria o mesmo. A família
conseguiu “fugir do medo”, mas o “medo continuou a persegui-la”.
As intimidações continuaram quando, numa
conhecida rede social, o marido resolveu divulgar fotografias da campa da sogra.
Para além disto, ameaçava a mulher dizendo que iria ficar com a “guarda” das crianças,
alegando ter melhores condições de vida.
Toda a situação de violência doméstica foi denunciada às autoridades, bem como foi
requerido pela senhora/utente o pedido de regulação das responsabilidades parentais. A
equipa de técnicos que acompanhou a família foi, paralelamente, trabalhando a sua
autonomização. Hoje esta mulher e esta família estão autónomas: a senhora tem um
trabalho e o Tribunal atribuiu-lhe as responsabilidades parentais das crianças.